A bolsa paulista fechou o último pregão de 2014 em
queda e amargou a segunda desvalorização anual consecutiva, em um
cenário de fraqueza econômica e preocupação de investidores com os
fundamentos do país.
No ano, o principal índice de ações brasileiras recuou 2,91%, após o
tombo de 15,5% em 2013. Em dólar, o Ibovespa acumulou perda de
13,7%.
Para 2015, as estimativas são de mais um ano difícil para o mercado
acionário local, com especialistas atrelando qualquer melhora mais
consistente da bolsa à implementação de reformas pela equipe
econômica do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff.
Nesta terça-feira, o Ibovespa recuou 1,16%, a 50.007 pontos, com
volume financeiro de R$ 4,5 bilhões. Em dezembro, acumulou
desvalorização de 8,62%, fechando o quarto trimestre com declínio de
7,6%.
"O mercado está terminando 2014 cansado, com um quadro ruim da
economia", resumiu o gestor Joaquim Kokudai, da Effectus
Investimentos.
Nem mesmo o forte ingresso de capital externo foi suficiente para
impedir a queda anual da bolsa. No ano até 26 de dezembro, dado mais
recente disponível, o fluxo de estrangeiros no mercado à vista
estava positivo em quase R$ 20 bilhões.
Estrategistas de renda variável consultados recentemente pela
Reuters não veem o Ibovespa barato em termos de fundamentos da
economia e múltiplos, como preço de ação versus lucro (P/L) das
empresas.
A eleição presidencial deste ano agitou os negócios na bolsa, que
chegou a acumular valorização de 20 por cento no ano no fechamento
de 2 de setembro, diante da expectativa de vitória da oposição na
eleição presidencial. O mercado agora espera por medidas que devem
ser adotadas pela nova equipe econômica, liderada por Joaquim Levy
no Ministério da Fazenda.
"Todos aguardam se ele conseguirá resolver os problemas da economia.
É como um time de futebol que foi rebaixado e trouxe um craque para
a próxima temporada", afirmou Kokudai.
Pesquisa feita pela Reuters em meados deste mês indica que o
Ibovespa poderá subir a 54 mil pontos no fim de 2015 se Dilma
cumprir promessas como a de recuperar as contas públicas e de
combater a inflação com mais vigor.
Ainda assim, a alta do Ibovespa seria inferior a 10 por cento,
abaixo do retorno obtido com muitas aplicações em renda fixa se
considerada a taxa básica de juro Selic atual de 11,75%, e que deve
subir no próximo ano.
PETROBRAS EM XEQUE
As ações da Petrobras, no centro de um suposto esquema bilionário de
corrupção, não responderam pela maior queda do Ibovespa em 2014, mas
certamente espelharam expectativas, frustrações, esperanças e
especulações no mercado quanto a mudanças na economia e na política.
A estatal, maior empresa em receita da América Latina, fechou o ano
com uma perda próxima de 38% em seu valor de mercado. Suas ações
preferenciais caíram 37,7% e as ordinárias desvalorizaram-se 37,96%.
"A situação é muito preocupante para a maior empresa do Brasil e o
curto prazo continua bastante sombrio", disse o analista Marco
Aurelio Barbosa, da CM Capital Markets.
As cinco maiores quedas do Ibovespa em 2014 foram Oi (-76%), Rossi
Residencial (-66,8%), Usiminas (-64,5%), CSN (-60,1%) e PDG Realty
(-52,5%).
As maiores altas do índice foram Kroton (+63,8%), Marfrig (+52,5%),
Gol (+44,9%), Cetip (+41,1%) e Lojas Americanas (+38,1%).
Pesquisa Reuters a uma semana da votação do primeiro turno da
eleição colocava o Ibovespa em 50 mil pontos no caso de vitória de
Dilma - tanto a presidente foi confirmada para novo mandato como
foram as projeções capturadas no levantamento.
ÚLTIMO PREGÃO DO ANO
Neste pregão, as ações da Petrobras mostraram alguma indefinição na
primeira etapa dos negócios, chegando a trabalhar no azul, mas
firmaram-se em queda após a abertura negativa em Wall Street.
O desempenho do Ibovespa no último pregão do ano foi prejudicado
também pela queda de papéis de empresas de educação, com destaque
para Kroton, após o governo estabelecer exigências adicionais à
liberação de empréstimos no âmbito do Fies, programa para o
financiamento de estudantes do ensino superior.
Como nas últimas sessões, a liquidez reduzida diante da proximidade
das festas de fim de ano deixou o rumo dos negócios a mercê de
fluxos específicos, sem necessariamente sugerir alguma tendência.
Cielo esteve entre os contrapesos positivos do dia, com alta de
2,36%. O Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovou,
sem restrições, acordo entre a companhia e o Banco do Brasil para
uma joint venture dos negócios com cartões das duas instituições.
As preferenciais da mineradora Vale perderam fôlego e fecharam em
baixa de 0,47%, após darem algum suporte mais cedo diante da nova
elevação dos preços do minério de ferro na China, com os preços para
entrega imediata superando os US$ 70.
Câmbio — Foi o quarto ano seguido de valorização
da moeda norte-americana, que acumulou alta de 60% ante o real no
primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff.
Nesta terça-feira, último pregão regular do ano, contudo, o dólar
recuou 1,79%, a R$ 2,6587 na venda, em meio a ajustes após a
escalada recente e ao baixo volume de negócios.
Em dezembro, a moeda norte-americana avançou 3,39%, no quarto mês
seguido de alta, e no trimestre acumulou alta de 8,61%. No ano, o
avanço foi de 12,78%.
A expectativa do mercado é que o dólar mantenha a trajetória de alta
em 2015, mesmo com a divisa oscilando perto das máximas em quase dez
anos.
O relatório Focus do BC mostrou na segunda-feira que economistas de
instituições financeiras passaram a projetar o dólar a R$ 2,80 no
fim de 2015.
“Esperamos uma valorização global do dólar, com a perspectiva de
alta dos juros nos Estados Unidos. É quase impossível imaginar um
cenário em que o real fique imune a isso”, afirmou a estrategista
para mercados emergentes do banco Jefferies em Nova York, Siobhan
Morden.
Os últimos indicadores econômicos dos EUA têm reforçado a percepção
de que a recuperação norte-americana segue forte, apesar do fraco
crescimento de outras economias importantes, pavimentando o caminho
para uma alta dos juros que pode atrair para a maior economia do
mundo recursos aplicados em países como o Brasil.
No quadro interno, a expectativa é que o BC reduza gradualmente sua
atuação no mercado de câmbio, embora deva continuar atuando
diariamente no primeiro semestre de 2015.
O BC tem intervindo diariamente no câmbio desde agosto de 2013,
justamente quando o Federal Reserve, banco central norte-americano,
começou a sinalizar que pretendia reduzir seu programa de estímulos
monetários. Na época, a oferta diária era de 10 mil contratos de
swaps cambiais e o programa incluía também leilões semanais de venda
de dólares com compromisso de recompra, os chamados leilões de
linha.
Em 2014, o BC reduziu sua presença no mercado, eliminando os leilões
de linha e passando a ofertar diariamente 4 mil swaps. Entre os
agentes financeiros, a expectativa é que, agora, o BC reduza as
ofertas diárias de swap e calibre as rolagens de swaps para garantir
que o estoque desses contratatos não cresça muito, preparando o
terreno para mais uma redução nas atuações diárias.
O presidente da autoridade monetária, Alexandre Tombini, já afirmou
que o BC continuará ofertando o equivalente a entre US$ 50 milhões e
US$ 200 milhões em swaps cambiais por dia, mas não precisou ainda
qual será o montante. Ele também tem afirmado que o atual estoque de
swaps, que corresponde a pouco mais de US$ 100 bilhões, já dá conta
da demanda por proteção cambial.
“É natural que o dólar seja um pouco pressionado com o BC diminuindo
as ofertas de swap, mas ele já indicou que vai fazer isso de forma
bastante gradual”, disse o gerente de câmbio da corretora BGC,
Francisco Carvalho.
Nesta manhã, o BC vendeu a oferta total de até 4 mil swaps pelas
atuações diárias, com volume correspondente a US$ 195,1 milhões.
Foram vendidos 550 contratos para 1º de setembro e 3,45 mil
contratos para 1º de dezembro de 2015.
Na véspera, a autoridade monetária também concluiu a rolagem dos
swaps que vencem em janeiro, rolando praticamente todo o lote
equivalente a US$ 9,827 bilhões de dólares. Nos últimos quatro
meses, o BC tem feito rolagens praticamente integrais.
O plano do BC de reduzir as intervenções deve ser auxiliado pela
melhora da credibilidade fiscal do governo. O ministro indicado para
a Fazenda, Joaquim Levy, já disse que perseguirá em 2015 uma meta de
superávit primário equivalente a 1,2 por cento do Produto Interno
Bruto (PIB) e, nos anos seguintes, buscará a redução da dívida
bruta.
Essas promessas têm agradado os agentes financeiros, que criticam a
condução atual da política fiscal por ser excessivamente
expansionista e pouco transparente. Mas operadores ainda querem ver
garantias de que esse objetivo será cumprido, uma vez que a
avaliação é que o caminho não será fácil.
Na segunda-feira, o governo anunciou um pacote de ajustes nas regras
de acesso a benefícios trabalhistas e previdenciários que deve gerar
economia anual de US$ 18 bilhões.
“O dólar vai subir, sem dúvida, mas um ajuste fiscal crível pode
amortecer a pressão”, disse o operador de câmbio da corretora B&T,
Marcos Trabbold.
Nesta sessão, o dólar chegou a cair quase 2,5%, a R$ 2,6406, em um
movimento amplificado pela briga antes da formação da Ptax de
dezembro. A Ptax, que serve de referência para diversos contratos
cambiais, fechou a R$ 2,6556 para compra e R$ 2,6562 para venda.
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